17 de jul. de 2009

Qual a cor de um coração na África do Sul?

Na África do Sul do apartheid, onde a maioria negra estava, para além de socialmente, fisicamente separada da minoria branca que controlava a vida econômica e política do país, e enquanto Mandela cumpria apenas 4 dos 27 anos em que passaria confinado na prisão, um acontecimento histórico ocorrido em dezembro de 1967 repercutiria em todo o mundo.


Tanto quanto uma revolução das ciências médicas, o primeiro transplante de coração em seres humanos também significaria um acontecimento simbólico de enorme valor na consciência de muitos sul-africanos. O transplante do coração de Denise Darvall, morta num acidente de carro em que também morreu a sua mãe, a três minutos do hospital onde se realizaria a cirurgia, ganhou notoriedade e entrou para os livros de história da medicina.

O que pouca gente não sabe é que tanto naquele momento como os êxitos anteriores e os seguintes transplantes envolveram a solidariedade e a doação de órgãos entre negros e brancos. Fato não desprezível num país onde os hospitais etiquetavam as bolsas de sangue de acordo com a cor de pele dos doadores. A morte de Denise também possibilitou que o seu rim fosse transplantado num jovem negro. Anteriormente, e como passo fundamental para o êxito do primeiro coração transplantado, um homem negro foi doador também de um rim a uma senhora branca, chamada curiosamente Mrs Black (o que permitiu à imprensa internacional titular: “Senhora Negra recebeu um rim negro”). Esse transplante foi uma prova decisiva para ultrapassar um dos maiores desafios que impediam o transplante do "órgão mítico": a rejeição.

Meses mais tarde quando o cirurgião Chris Barnard realizou o segundo transplante, foi então o coração de um jovem negro de 28 anos, Clive Haupf, quem salvou a vida de um homem branco sul-africano. Bernard não perdeu a oportunidade para denunciar o regime racista do seu país. Lembrou, em uma entrevista no mesmo dia da operação, todas as privações que a família desse jovem negro foi e era submetido, a obrigação de sentarem-se em bancos reservados aos negros, usarem ônibus reservados aos negros, a casa perdida porque agora o bairro se encontra numa área de brancos e etc. Mas quando lhe pedi ao seu pai o coração do seu filho, lembrou Barnard, ele não me respondeu: “o coração do meu filho está reservado aos negros”.

COMENTÁRIO
O terceiro transplante de coração foi realizado em 1968 no Hospital das Clínicas de São Paulo pelo Dr. Euryclides de Jesus Zerbini.

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