13 de jul. de 2009

Os lançados

Desde que os europeus, nomeadamente os portugueses, alcançaram o litoral da costa ocidental africana ao sul do Saara, no fim da primeira metade do século XV, uma questão importante se colocou: como travar relações diretas uma vez que os dois grupos pareciam viver em mundos completamente diferentes. O desconhecimento do terreno e das forças sociais da costa da chamada Grande Senegâmbia e o mais absoluto controle e domínio desse espaço pelos africanos impediu um simples “desembarque” dos portugueses em terras africanas. A razia (forma de captura violente de escravos) foi iniciada pelos navegadores europeus sob a bandeira de Portugal, mas em seguida foi abandonada em proveito de um contato mais "comercial".


É aqui que vão começar a surgir uma série de intermediários que irão ao longo dos séculos servirem de “ponte” entre esses dois mundos até a derradeira ocupação efetiva do continente africano a partir da segunda metade do século XIX. Esses intermediários serão africanos, mestiços, mas raramente europeus. Os casos excepcionais de europeus como intermediários ocorrem justamente com os portugueses dos primeiros contatos, quando surge então a figura dos lançados: homens que literalmente eram lançados dos navios e que deveriam chegar a nado à praia, sobreviver e conhecer todo o possível sobre a terra e seus habitantes para depois informar os demais portugueses. Muitos são bem sucedidos... Diríamos até de mais.

Esses primeiros portugueses a pisarem terras africanas acabaram integrando-se de tal maneira nas sociedades que lhes acolheram que passaram a vestir-se, comer e viver à maneira africana; “casaram-se” e tiveram filhos educados pelas mães africanas.

Depois dos lançados outros “personagens”, tais como, nas denominações em português, os tangomaos, os pombeiros, os ambaquistas, os afro-portugueses, etc surgiram e substituíram a experiência desses primeiros europeus que buscaram conhecer os africanos e sua cultura. Quatro séculos depois, quando os europeus lançaram-se outra vez sobre o continente africano, o resultado haveria de ser completamente outro.

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