28 de jul. de 2009

A Flecha de Deus de Chinua Achebe

Certamente muitos são os que gostariam de poder “voltar” na História; desfazer ou modificar o passado para “concertar” o presente. Mais do que uma viagem no tempo, a certeza de saber qual o melhor caminho a seguir (geralmente o contrário do que foi escolhido) agora que sabemos as consequências das decisões passadas. Deixando as especulações filosóficas e de ciência de ficção de lado, a História pode ter múltiplas interpretações, mas acontece apenas uma única vez na vida.


Chinua Achebe, escritor nigeriano autor de Quando tudo se desmorona, publicado em 1958, um dos livros africanos mais lidos no mundo, com toda certeza não pertence a essa classe de visionários. Mas me foi impossível não pensar nessa possibilidade enquanto lia outro de seus livros, A Flecha de Deus. E mais, até que ponto os grupos humanos realmente escolhem conscientemente o caminho a seguir.

Ezeulu, o personagem central do livro carrega uma enorme responsabilidade sobre si: é o mais importante líder espiritual de uma comunidade de seis aldeias que se juntaram para fazer frente aos perigos externos. A Umuaro, como é conhecida essa federação, tem por tradição que o seu máximo líder seja sempre um filho da família de Ezeulu. Seu bisavô, avô e o seu pai também carregaram essa responsabilidade e, assim como eles, terá que escolher um dos seus filhos para continuar com a tradição. E é justamente o conflito entre a tradição africana e o poder alienador do ocidente que permeia essa bela obra de Chinua Achebe.

A história se passa na segunda década do século passado e mostra os conflitos no seio da sociedade Ibo com a ocupação inglesa do que hoje é a atual Nigéria. Ezeulu tem boas relações com o administrador inglês Winterbotton, mas se nega a colaborar com esse quando se decide por interferir nas relações de poder da federação Umuaro. Enquanto isso o líder africano obriga o seu filho Oduche a frequentar a nova igreja trazida pelos brancos para que aprenda os segredos desses.

Movendo-se entre a tradição do seu povo e a força da presença ocidental, o supremo sacerdote terá que fazer difíceis escolhas. Esse é o drama que permeia a narrativa em A Flecha de Deus e que de certa maneira bebe da vivência pessoal de Chinua Achebe. Filho de um professor numa das missões religiosas instaladas no país, Chinua sempre recebeu dos seus pais os valores da cultura Ibo, mesmo esses sendo devotos do protestantismo e que, em homenagem à rainha Vitória lhe batizaram com o nome de Albert, o qual iria renunciar anos mais tarde enquanto frequentava a universidade.

Tanto quanto Chinua, também o personagem Ezeulu faz a suas escolhas, sabendo que não mudará o passado. Mas isso talvez já não tenha nenhuma importância... Resta então saber as consequências futuras das suas escolhas.

Um comentário:

  1. OLá. Gostei da sua crítica. ESte livro será o próximo a ser colocado no meu blog www.literaturasafrikanas.blogspot.com. d°e uma olhada, estou curiosa dos seus comentários

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