1 de ago. de 2009

O "escravo" africano

A escravidão moderna é um tema caro à história, principalmente quando se envereda para o lado das responsabilidades. Lembro-me de um antigo professor que sempre quando abordava o tema em suas aulas ou palestras, parecia ao fim como que obrigado a pedir desculpas e a justificar-se pelo clima tremendamente triste em que se acabavam as sessões. Realmente éramos presos por um sentimento de raiva, impotência e até, diria, depressivo.


Sabemos o quão importante foi a escravidão para o desenvolvimento do mercantilismo e, na sequência, à Revolução Industrial e ao capitalismo. As contas encaixam-se perfeitamente quando vemos quem são os que mais se beneficiam do atual modelo econômico, enquanto que por outro lado vemos os que pagam até hoje o elevado preço histórico e social desse “infame comércio”.

O escravo não é para nada, apesar da crença generalizada, um produto genuinamente africano. Diferentes tipos de submissão, de dominação, de exploração e de escravidão existiram em todo o mundo e em diferentes condições e épocas. Basta lembrar que a palavra escravo vem dos “eslavos” que eram escravizados pelos germânicos. Então em que momento o escravo africano e negro vai predominar e transformar-se no “escravo-mercadoria” tão necessário para a exploração do Brasil e da América?

Para começar não foi um processo que aconteceu de um dia pra outro e, principalmente, foi o resultado da participação (portanto uma invenção) conjunta de africanos, árabes e europeus. Como bem definiu o historiador francês Claude Meillassoux, autor de Antropologia da Escravidão, foi um “choque de civilizações” o que permitiu o surgimento do escravo moderno. Os africanos, assim como os europeus, russos, americanos, árabes também exerciam relações de submissão e de servidão no seio das suas sociedades. Mas quando da expansão islâmica no norte da África a partir do século VII, a nova religião trousse uma justificação à captura de escravos: a necessidade de conversão dos não-muçulmanos por meio da escravidão.

O aumento do tráfico gerou mudanças na economia interna africana ao criar condições para a venda dos seus “dependentes” num circuito comercial intercontinental.
A entrada em cena dos europeus a partir do século XV vai finalmente acentuar esse processo tanto no plano religioso (ao afirmar que os negros não possuíam almas), quanto no econômico com a demanda de um número cada vez maior de escravos.

A situação alcançou tão magnitude que os africanos já não tinham mais possibilidades de escolha: era necessário escravizar cada vez mais para não se transformarem num escravo. A abordagem teológica tanto islâmica quando cristã e, os interesses políticos e econômicos de africanos, árabes e europeus acabaram por “inventar” e justificar a escravização de milhões de africanos.

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