16 de out. de 2009

A África na blogosfera

Mama África está online

Do Blog Politika etc
Por Raphael Neves



Recentemente, a TV Brasil lançou a série Nova África, em uma tentativa de "dar voz aos africanos e retratar a diversidade do continente". Uma iniciativa louvável de uma tv pública em um país com uma imensa população negra. Mas, salvo raríssimas exceções da mídia tradicional, como é o caso da TV Brasil, e o exemplo de blogues como o Pé na África ou o Diário da África, pouco ou nada sabemos do que ocorre no continente africano. Seguindo a sugestão de Joaquim Toledo, do Blog do Guaciara, resolvi fazer um texto sobre a quantas anda a blogosfera africana.


Segundo o artigo da Eurozine.com que o Jay me mandou, apenas 11% das casas no continente tem internet, bem abaixo da média mundial de 23%. A boa notícia, porém, é a enorme expansão do mercado de telefonia celular. Principalmente em áreas rurais onde não há eletricidade, muito menos internet, agricultores tem utilizado aparelhos celulares para fazer negócios, como mostrou o NY Times recentemente. Claro, às vezes é preciso se deslocar bastante para poder recarregá-los na tomada mais próxima, mas o simples fato de estar conectado com o mundo tem ajudado a combater pragas nas plantações através do monitoramento e consolidação das informações em centros de pesquisa.

Também este ano o continente conectou-se à internet através de um cabo submarino, o primeiro desse tipo por lá, de 17.000 km instalado por uma empresa com capital 75% africano, segundo a CNN. O cabo vai conectar países como a África do Sul, Quênia e Madagascar, na costa leste africana.

Ainda segundo o Eurozine, dos cerca de 10.500 blogues africanos catalogados em julho deste ano, 62% são da África do Sul, o que representa aproximadamente 6.400 blogues, seguida da Nigéria com 1.094, Quênia com 555 e Egito com 325 blogues. Como no resto do mundo, os temas abordados por cada blogue variam. O portal Afrigator dá uma boa ideia disso na seleção dos "temas quentes" debatidos nos blogues que hospeda: afrigator.com/topics/summary.

De blogues pessoais que retratam o cotidiano, como o Capetowndailyphoto.com passando pelos excelentes blogues políticos como o Blacklooks.org e o Kenyanpundit.com, a coisa por lá anda mesmo muito interessante. Outro blogue que vale a pena visitar é o Natavillage.typepad.com. Trata-se de um blogue comunitário de uma vila de 5.000 habitantes em Botswana. O país é o que tem maior índice de contágio de HIV em todo o continente e, na vila de Nata, a doença chegou a níveis pandêmicos. Segundo a página, 50% das gestantes são portadoras da doença. O blogue concentra informações, alertas médicos e também divulga as ações para captação de recursos destinados a melhorar as condições de saúde dos moradores da vila.

Sobre ecologia e desenvolvimento sustentável, há o Voicesofafrica.info. Algo que chamou minha atenção ao entrar na página foi um seção voltada para "Information Empowerment" (empoderamento da informação), ou seja, em como a tecnologia e as novas formas de comunicação podem melhorar a qualidade não só de vida, mas das instituições de alguns países. Recentemente na New School ouvi de um ativista e advogado congolês, Olivier Kambala, as dificuldades em se criar o Instituto da Memória do Congo (memcongo.org) a fim de preservar a memória de anos de colonização belga e guerra civil. Um problema que ficou claro para mim é que em certos países simplesmente não há condições estruturais de se formar uma esfera pública formal (isto é, rádio, tvs, jornais etc.). Portanto, quando se quer fazer chegar informações às pessoas ou ouvir delas suas histórias (algo fundamental para um instituto da memória), a internet, se disseminada, pode ser o primeiro passo à constituição das condições mínimas para mecanismos democráticos de participação.

Um comentário:

  1. Caro Diego,

    Obrigado pela visita e parabéns pelo blog!Excelente iniciativa de escrever um blog sobre a África. Precisamos disso. Claro que não tive espaço (nem tenho tanto conhecimento assim sobre o continente) para tratar de países específicos. Acabamos reduzindo tudo à "África", como se o continente não tivesse contrastes. Cabe a espaços como o seu fazer o serviço.

    Forte abraço,
    Rapha

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