13 de set. de 2009

O Acordo Ortográfico

Do Tertúlia Crioula
Por Edmilson Varela

O Acordo Ortográfico visa uma normalização da escrita da língua portuguesa entre os países da CPLP (Portugal, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique e Timor-Leste).


Nos inícios do século XX houve várias tentativas falhadas entre Portugal e Brasil no sentido de estabelecer uma regra única para a escrita da língua portuguesa, pelo menos a nível científico (mas sem sucesso). Mais tarde, mais concretamente na década de 80, com a independência dos países africanos da língua oficial portuguesa, foram dados passos importantes neste sentido, com as negociações entre a Academia de Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras, que culminou com a assinatura do acordo em 1990, em Lisboa, entre todos os países da língua oficial portuguesa. No caso de Timor-Leste só foi possível fazer parte deste projecto a partir de em 2004, após a sua independência.

A reforma ortográfica de 1990 precisava apenas da ratificação de pelo menos três países para entrar em vigor, o que aconteceu em 2006, com a ratificação do Brasil, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e, em Maio de 2008, a ratificação por parte de Portugal. Tendo em conta que o acordo ortográfico foi assinado há 19 anos, não impediu que estes países o ratificassem. Porém, há já alguns países como Brasil e Cabo Verde, que prevêem a entrada em vigor do novo acordo ortográfico ainda este ano. No entanto, há para todos os países da língua oficial portuguesa um período de tempo considerável para a sua adaptação (antes da entrada em vigor, definitivamente) que, provavelmente, será em 2012.

Mas afinal, o que é que muda com o novo acordo Ortográfico? Qual será a reacção dos profissionais? Será que há um consenso em relação a este acordo?

São algumas as mudanças na língua portuguesa. Mudanças essas que se resumem a nível do vocabulário, introdução de algumas letras, mudanças na utilização de maiúsculas, nas utilizações dos acentos (circunflexos e grave) e mudanças na utilização do hífen.


Ora, vejamos então essas alterações em cada caso:

Vocábulos:

Segundo João Casteleiro e Pedro Dinis, são um total de 1140 palavras afectadas pelo novo acordo ortográfico. Destas 1140, 1026 vão sofrer alterações obrigatórias e definitivas, uma vez que são consoantes mudas, como: “cc, pc ct, pt”- ex.: “cc” – transacionado, lecionar, ação, ereção, reação, “pc” – percecionar, anticoncecional, adoção, conceção, “ct” – ato, atual, teto, projeto, “pt” - Egito, batismo. Nas sequências, mpt e mpc, o m é substituído por n ex: assunção e não assumpção.

Há, entretanto, um total de 114 palavras que passara a ter dupla grafia, por causa das diferenças na pronúncia, fundamentalmente entre Portugal – mais os países africanos da língua oficial portuguesa e Timor-leste (como por exemplo: Fricção, sucção, facto, pacto, bactéria etc.) e o Brasil (exemplo: frição, fato, pato …).

Maiúscula:

-Haverá mudanças também na utilização de maiúscula e minúscula, temos por exemplo os meses do ano e os pontos cardeais, que vão passar a ser escritos em minúsculas, assim como também, títulos de livros (atenção que a primeira letra deve ser escrito em maiúscula), nomes de praças, de ruas, de disciplinas ou mesmo das áreas do saber, como “português”,” matemática” etc.

Introdução de novas letras:

-Temos a introdução em definitivo do “K”, “W” e “Y”, isto é, o português passa a ganhar mais três letras. Alfabeto português passará de 23 para 26 letras.

Hífen: Nas palavras com os prefixos como “anti-“ e “co-“ deixam de se empregar o hífen, exemplo: co-piloto, passará a escrever-se “copiloto”. Quando as palavras prefixadas começam por “r” e “s” a letra duplica-se ex: anti-reflexo, passará a ser escrito “antirreflexo”.

Passará a ser usado em palavras prefixadas quando a palavra base começa com “h”, ex: anti-herói, e, também, quando a última letra do prefixo é igual a primeira letra da palavra seguinte ex: contra-ataque, excepto quando o prefixo começa por “co-“, como cooperação. Mantém-se a sequência de “m” e “n”, ex: circum-navegar. Não mudarão, também as palavras prefixadas por “pré-“, “prós-“, “bem-“ e “não-“.

Mantém, de igual modo a repetição do hífen na linha seguinte nos casos em que a mudança de linha se faz na posição do hífen, ex: “diretor-//-geral”, o mesmo acontece na translineação. Nos casos monossilábicos do verbo haver deixa de haver hífen, ex: há de, e não há-de.

O acento circunflexo: o circunflexo em vogais ô e ê mantém-se. Mas, por outro lado, podendo no entanto haver dupla grafia em palavras que se pronunciam de forma diferente, como por exemplo: a palavra tônico (Brasil) e tónico (Portugal e os países da língua oficial portuguesa). Ambas as formas estão correctas. O acento circunflexo também cai nas situações em que é utilizado para distinguir palavras monografas. Por exemplo haverá mudança na palavra pelo, e não pêlo, ou seja, estamos perante uma palavra com duplo significado, mas entretanto escreve-se apenas de uma maneira.

Em relação à utilização do acento em alguns verbos, vai haver mudanças por exemplo no verbo parar, que vai passar a ser escrito sem o acento, para e não pára, porém, vai manter o acento em outras situações como forma de distinguir da preposição, ex: (mantém-se) pôr, e não por.

O acento na letra u depois do q ou g, deixa de ser utilizado, exemplo: oblique e não obliqúe, para o conjuntivo presente e imperfeito de obliquar, assim como também agues e não agúes (do verbo aguar).

Como acabamos de ver, são algumas as mudanças do novo acordo ortográfico.

As opiniões dividem-se entre os que estão a favor e os que estão contra o novo acordo ortográfico, isto é, não há um consenso em relação a este acordo. O facto é que todos apresentam argumentos, quer a favor, quer contra a nova regra ortográfica. As vantagens ou desvantagens são subjectivas. Para nós (os mais velhos) pode ser um pouco difícil habituarmo-nos às novas regras, no entanto para os mais novos (com um bom trabalho a nível da educação) será fácil a adaptação, uma vez que a intenção, no fundo, é simplificar a escrita da língua portuguesa. De modo que posso dizer, que a intenção é também aproximar os países da CPLP a nível da ortografia, tornando a escrita da língua portuguesa uniforme entre os seus falantes.

Com esta breve exposição esperamos contribuir para um maior e melhor esclarecimento sobre a nova regra ortográfica.

Todavia, tomamos a liberdade de reunir um conjunto de bibliografias ou melhor de fontes (que utilizamos no nosso trabalho) e que achamos por bem pôr à disposição do leitor, caso queira aprofundar o seu conhecimento em relação a esta matéria. As obras estão disponíveis nas livrarias nacionais.

Fontes:

-Acordo Ortográfico, Guia Prático; Porto, 2008, ed.: Porto Editora;

-BECHARA, Evanildo, O que muda com o novo Acordo Ortográfico, ed.: Nova Fronteira;

-CASTELEIRO, João Malaca, Correia, Pedro Dinis, Atual – O Novo acordo ortográfico, o que vai mudar na grafia do português, Lisboa, 2008;

-CORREIA, Pedro Dinis, Vocabulário Prático da Língua Portuguesa, conforme o Acordo Ortográfico, Lisboa, 2008, ed.: Texto Editores;

-GOMES, Francisco Álvaro, O Acordo Ortográfico, Lisboa, 2008, ed.: Flumen/Porto Editora;

-SANTOS, Volnyr, SOBRE O ACORDO ORTOGRAFICO DA LINGUA PORTUGUESA, ed.: Rigel.

-SILVA, Maurício, O Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa: o que muda e o que não muda, ed.: Contexto.

-VIEIRA, Jair lot, O novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, ed.: Edipro,

Sites:

-http://www.portaldalinguaportuguesa.org/?action=acordo;

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